Entrevista 2ON Fabio Pedro

O Al. Elias do 3º ano de Náutica ofereceu uma colaboração ao Canal 16 fazendo uma entrevista com o 2ON Fabio Pedro. Segue abaixo a referida entrevista:

Entrevista – 2ON Fabio Pedro de Moraes

Por Oficial Al. Elias

1) Você se formou em que ano e quais foram os motivos que o levaram a ingressar nessa carreira?

Eu me formei no final de 2006 e o que me levou a escolher a carreira foi, sem dúvida, o curto tempo do curso e a boa remuneração inicial. A princípio, meu plano era entrar na EFOMM, trabalhar e, com o salário que teria quando formado, investir em outra graduação e voltar a ser terráqueo. Acho que esse é mais ou menos o plano de muita gente. No entanto, quando estamos dentro é que conhecemos o tamanho da nossa área e, hoje, eu penso muito mais em investir e melhorar na minha área do que tentar uma carreira em terra.

2) Como foi a escolha do curso? Já tinha certeza de que curso queria ou chegou a ficar na dúvida?
A escolha do curso foi no fim do primeiro ano e, na minha turma, não lembro de ninguém que não tenha cursado o curso de preferência.
Eu, particularmente, naquela época, escolhi o curso de Náutica pelo ambiente de trabalho e, apesar do período mais longo de praticagem, não tive muita dúvida.

3) O que você levou do tempo de Escola para a carreira de Oficial mercante?

Da escola eu levei: algumas amizades que vão durar a vida toda, a lição e o costume de estar fora de casa por longos períodos e fazer de cada volta uma festa sem fazer de cada ida uma despedida.

4) Quais as matérias que você mais gostava?
Na escola, as matérias que eu mais gostava eram as astronomias do Vivekananda, as estabilidades do Jacaúna e os ingleses do Silvio Maia. Isso sem falar de algumas outras matérias que, pelos mestres, eram mais divertidas do que interessantes ou instrutivas.

5) Como foi o seu período de praticagem? Quais as dificuldades que você teve? (Al. 1º ano – Fagner)
Meu período de praticagem na Maersk foi de 6 meses em navios de conteiner classe L e os outros 6 meses em barcos de apoio marítimo, offshore, aqui na Bacia de Campos. Durante o período do conteiner eu fazia a rota da Europa/América do Sul com uma tripulação de oficiais Dinamarqueses e guarnição filipina. No começo, a maior dificuldade foi com a língua, meu inglês nao era excelente, somente suficiente, e o falar e entender no rádio foi a maior dificuldade. Mas, com o tempo e com o convívio com a língua, a comunicação foi melhorando significativamente, o vocabulário técnico foi enriquecendo e eu acredito que essa é uma dificuldade que todos passam. Estudar e praticar a língua na sala de aula é uma coisa, usar o que aprendeu, entender e apreender as variações e os sotaques a bordo de cada navio é bem diferente.

6) Já passou por alguma situação de emergência embarcado?
Na praticagem eu passei por 2 príncipios de incêndio na praça de máquinas, mas os sistemas de bordo funcionaram muito bem e só provocou perda de força e bastante fumaça.

7) A carreira era aquilo que você pensava?
Antes de entrar na escola eu não sabia o que esperar da carreira. Na verdade, eu não tinha muita idéia do que era a carreira de um Oficial de marinha mercante. Durante o período da escola eu pude conhecer algumas pessoas e ter uma idéia do que era trabalhar embarcado mas, somente durante a praticagem eu pude conhecer a rotina e as obrigações da profissão e posso dizer que o serviço é duro mas bastante empolgante e recompensador.


8 ) Como é trabalhar na Maersk? Como é o seu dia-a-dia embarcado?
Trabalhar na Maersk pra mim foi uma excelente oportunidade para estar em contato com o que há de mais moderno em equipamentos e métodos que envolvem a profissão. O rigor e o metodismo de inspeções e manutenções periódicas, o compromisso com a embarcação, o excelente treinamento e os cursos que a empresa oferece fizeram de mim confiante no serviço que tenho que desempenhar a bordo. Minha rotina a bordo dos barcos de manuseio de âncoras se dá em turnos de 6h por 6h de descanso, quando operando. Além do serviço de quarto existem as obrigações do oficial de náutica com Salvatagem e Combate a Incêndio. Essas manutenções e inspeções são feitas nos horários livres e são, na maioria das vezes, divididas entre os dois segundos oficiais de náutica do navio. Quando atracado, além do serviço de quarto de rotina também fico encarregado de receber e acompanhar inspeções e auxiliar a tripulação estrangeira com a comunicação com o porto.

9) Sempre escutamos que é uma das poucas empresas que atuam no litoral brasileiro que ainda pratica a navegação de longo curso. Isso é verdade, já teve a oportunidade de visitar outros países?
A Maersk tem a Mercosul Line como braço atuante na cabotagem brasileira, assim como tem a Safmarine que atua na África. São empresas diferentes mas do mesmo grupo, assim como há a Maersk Line, que foi onde eu pratiquei. Durante a praticagem eu pude visitar sim outros países.

10)Realmente, a fluência no inglês é essencial?
Inglês é muito importante no apoio marítimo, muito mesmo. Muitas tripulações são metade estrangeiras e, na maioria das vezes, quem sabe inglês pega os melhores serviços. Quando me perguntam eu sempre digo que inglês não é segunda língua, é primeira.

11) O que você que mais mudou na Escola em relação a sua época?
Acredito que o que mais deve ter mudado na escola seja a estrutura. E não vi as mudanças pessoalmente mas melhorias já eram necessárias e urgentes desde meu tempo de H-2.

12) Quais características você considera que são imprescindíveis para um Oficial Mercante?
Falar inglês, conseguir trabalhar sob pressão, ter “jogo de cintura” pra certas situações e principalmente paciência.

13) E qual mensagem você poderia passar para os pais dos atuais alunos.
Para os pais eu posso dizer que os alunos estão optando por uma carreira muito promissora, que proporciona muitas conquistas mas que cobra um preço alto que é a distância. E acho que a maior missão dos pais é ser o ponto de apoio dos seus filhos, principalmente no início do período da escola e durante toda a praticagem que é quando nós somos introduzidos em ambientes diferentes e sendo avaliados por pessoas estranhas.

14) E para os alunos, que mensagem você gostaria de deixar.
Para os alunos eu recomendo que conheçam o máximo que puderem das opções que o mercado de trabalho oferece, conversem com oficiais formados e sempre ponderem sobre as “vantagens” que oferecem enquanto se está na escola. O mercado está muito aquecido no momento e, o que mais interessa hoje é um bom ambiente de trabalho e um regime justo de embarque. Com a internet esse contato é muito mais fácil e deixo aqui meu email pra quem quiser trocar uma idéia ou tirar uma dúvida: trooma@yahoo.com.br
Obrigado pela oportunidade, espero que minhas respostas possam ajudar alguém com suas dúvidas e qualquer coisa é só mandar um email!

um abraço!

Fabio Pedro
2Off. Maersk Terrier

O Jornal Canal 16 agradece esta grande entrevista que o 2ON Fabio Pedro concedeu aos futuros oficiais da Marinha Mercante.

Al. Marcus Leal

Aluno do 3° ano do curso de Máquinas.

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