De degrau em degrau – Com carinho, Carolina

        A lancha já estava emparelhada ao navio, a escada já estava a postos e foi quando a agarrei e subi o primeiro degrau. Não importava quantas vezes já tivesse feito aquilo, tampouco quantas futuras vezes ainda teria de fazer, odeio degraus. Odeio, não por causa do criador de escadas nem por causa da função que possuem, mas, sim, pelo fato de nunca ter pisado em uma ou subido em um degrau adequado ao tamanho das minhas pernas.

        Se fosse citar outro incômodo, acho que diria o esforço que preciso fazer tanto para subir quanto para descer (um degrau)… talvez seja esse esforço de alguma mudança o que de fato me incomode e esteja apenas descontando nos pobres degraus… Mudar. Não gosto. Não gosto, porque não tenho ou talvez não tenha, porque não goste da sensibilidade necessária para ter a percepção de que se é preciso mudar, de que se é preciso certo esforço, por mínimo que seja, quando se deseja subir ou descer um degrau.

        Seriam as minhas pernas curtas demais para as escadas que quero subir, ou talvez, até mesmo, longas demais para as que quero descer? Ou, ainda, estaria eu, apenas, indo atrás de pisar sobre as erradas escadas? Não sei. E odeio não saber. Assim como odeio os degraus.

        Estávamos já nos aproximando de IguaPort e, mesmo a sotavento, a escada de corda móvel em que me encontrava balançava vorazmente naquela tarde de 3 de agosto de um ano do qual não me recordo agora… Terminei por subir e, como havia dito antes, não importava quantas vezes já tivesse feito aquilo, continuaria a odiar degraus… Entretanto, acontece que, quer eu gostasse, quer eu não gostasse, precisava seguir, precisava fazer o que escolhi para minha vida, como um prático, que seria conduzir aquele navio até o porto e, para isso, naquele momento, necessitava passar por minha escada.

        É verdade que nunca fui amante de degraus, mas aqueles, de fato, precisavam ser superados, pois faziam parte daquelas certas escadas que nos fazem subir o que tiver de ser subido e descer o que tiver de ser descido e que, talvez sejam elas, as escadas certas, não com degraus do tamanho das minhas pernas, mas do tamanho das pernas que ainda não sei que possuo.

TEXTO – Al. Carolina Moura

REVISÃO – Al. Juliana Vieira

ARTE –  Al. Thalia Lima

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