Entrevista: Chefe de Máquinas Michel

Muitas dúvidas são freqüentes durante o período da EFOMM quanto à vida pós formado. Pouco sabemos da “vida lá fora” e uma maneira de nos mantermos informados é com a experiência dos que já passaram por aqui e estão trabalhando no ramo atualmente. Abaixo segue a entrevista concebida pelo Chefe de Máquinas Michel Silva formado pelo CIABA, que encontra-se atualmente trabalhando em Offshore.

1)      Em que ano ingressou na EFOMM?

Entrei na EFOMM em 2002 e me formei em 2004 e pratiquei em 2005.

2)      Por que optou pelo curso de máquinas?

Sempre tive maior afinidade com disciplinas relacionadas à mecânica, eletricidade, etc. e antes de entrar na escola eu pensava em fazer engenharia. Quando a adaptação acabou e começamos a ter aulas que eram consideradas básicas, com professores dos cursos de náutica e máquinas, eu não tive dúvidas, máquinas, pra mim, era muito mais interessante.

4)      Como foi a praticagem na sua época?

O começo da minha praticagem foi muito difícil, peguei um instrutor que só sabia me cobrar e não me ensinava nada, nem me deixava ler manual. Com o tempo percebi que, se passasse os seis meses da praticagem tirando serviço com ele eu não aprenderia nada. Então comecei a “colar” nos outros maquinistas, no mecânico, no eletricista e nos marinheiros de máquinas e me distanciei do instrutor. Aí sim eu comecei a aprender muita coisa e ver na prática muita coisa que eu só tinha visto na teoria na escola.

Tirando esse contratempo no começo, o restante da minha praticagem foi excelente. Conheci quase todos os portos da costa brasileira, aprendi muita coisa e fiz amizades que conservo até hoje.

5)      Como é o trabalho de Chefe de Máquinas?

O trabalho de chefe é muito gratificante, porém ter sobre sua responsabilidade os equipamentos de uma embarcação cuja diária custa alguns milhares de dólares não é pra qualquer um. O chefe é quem programa as manutenções (com ajuda do subchefe), quem faz os pedidos de material e quem solicita as oficinas para reparos que não possam ser realizados pela tripulação, entre outras coisas. Então, o chefe de máquinas tem que estar ciente de tudo que acontece na embarcação, não só na praça de máquinas, mas também nos aparelhos de carga do convés, equipamentos de segurança e salvatagem, passadiço, e etc., como a gente costuma dizer, não basta embarcar só na máquina, tem que estar embarcado no navio todo, de proa a popa.

6)      Quais vantagens enxerga no offshore e na cabotagem?

Sem dúvida, a grande vantagem do offshore em relação aos navios da cabotagem é o tempo de embarque. A maioria das empresas de offshore trabalha em regime de 28 x 28 dias ou 14 x 14 dias, enquanto na cabotagem, o regime é de dois meses embarcado para um de repouso (2 x 1), além disso, no offshore é muito difícil que você não desembarque no dia programado, enquanto na cabotagem, os atrasos na rendição são comuns. Já fiquei sabendo que algumas empresas de cabotagem estão adotando o regime de 1 x 1 e pagando multas para tripulantes quando estes ficam além do seu período de embarque. Se isso for seguido por outras empresas, certamente muita gente vai migrar do offshore para cabotagem no futuro.

7)      Quais desvantagens enxerga no offshore e na cabotagem?

A rotina de trabalho do offshore é bem mais cansativa e estressante. Nos navios da cabotagem, o regime de quarto de serviço geralmente é de 8 horas de serviço por 16 de repouso ou 4 horas de serviço por 8 de repouso por dia. No offshore, normalmente se trabalha 12 x 12 horas ou 6 x 6 horas devido ao número menor de tripulantes a bordo. Algumas embarcações de offshore passam 28 dias em alto mar, só atracam para troca de turma, essa rotina se torna muito cansativa. Na cabotagem você tem oportunidade de estar conhecendo lugares o tempo todo, conhecendo pessoas diferentes… É como se o tempo passasse mais rápido.

8)      Como conseguiu conciliar a relação família/trabalho?

Com a rotina do offshore não é difícil, é claro que não dá para estar em casa em todas as datas comemorativas importantes (dia das mães, dias dos pais, natal, ano novo, etc.), mas dá pra conciliar. Além disso, algumas embarcações possuem internet e telefone, então sempre que é possível eu acesso a internet, mando um email ou ligo pra casa para matar a saudade.

9)      Quais cursos extras julga necessário para um maquinista pós EFOMM?

Na minha opinião, uma coisa é fundamental: falar inglês. Os maiores salários estão nas empresas estrangeiras, nessas empresas há funcionários de todas as partes do mundo, mas o idioma falado a bordo é o inglês.

Outro ponto importante é o conhecimento em eletricidade e eletrônica. As embarcações estão cada vez mais modernas e o número de comandos eletroeletrônicos vêm se multiplicando a bordo.

10)  Qual mensagem deixa para os alunos?

A mensagem que posso deixar é para que tenham muita garra e força de vontade para seguirem o caminho que escolheram. Nossa profissão está em alta com a chegada do Pré-sal, e todas as empresas buscam bons profissionais. Certamente muitos obstáculos aparecerão, mas temos que lembrar que obstáculos foram feitos para serem transpassados. Um forte abraço a todos. Qualquer coisa é só chamar no canal 16.

Oficial Al. Saulo.

Al. Marcus Leal

Aluno do 3° ano do curso de Máquinas.

Você pode gostar...