Exemplar Referência – Com carinho, Carolina

     BeloPort, 01 de novembro de …

     Exemplar Referência,       

     Há meses que já estamos a bordo. Entretanto, só hoje te escrevo. E por que te escrevo? Então, porque sou assim, uma pessoa meio sem jeito, meio envergonhada, meio sem graça e sem coragem para chegar até você e te dizer tudo isso. Mas te escrevo, pois, ao escrever, registro sinceras palavras. Talvez seja esse um dos poucos momentos, senão o único, em que consiga ainda ser fiel aos meus circuitos cerebrais, os quais produzem minhas emoções, e é por isso que você é destino das minhas escritas, de uma das coisas, ao meu ver, mais nobres que permaneceram comigo.

     Não tenho o costume de te fazer de confidente, porque, ao te compartilhar alguma das minhas ânsias, uma das suas ela irá se tornar. A verdade é que, a todo momento, preocupou-se comigo, preocupa-se comigo, como eu estou, se tenho alguma necessidade, se alguém me tirou da minha harmonia emocional, de forma que, independente das situações pelas quais passemos, sinto que eternamente terei a você.

     Essa sensação me agrada. Agrada-me acreditar na ideia de te ter ao meu lado perpetuamente, no entendimento de que estará comigo suceda o que suceder. Todavia, aí se configura, provavelmente, um potencial pensamento para mexer na minha postura em relação a como correspondo a toda essa manifestação delicada, que pode, ou não, envolver contato físico, de apreço, amor ou meiguice, a qual é conhecida por carinho, segundo um dicionário online que andei vasculhando.

     Sei que tenho uma grande margem de erro com você, assim como, tem comigo, porém, por maiúscula que seja, também tenho ciência de que não deve estar sendo usada.  Acontece, vez ou outra, de, por termos alguém ao nosso lado constantemente, sermos levados a acreditar que estarão ali para sempre e por isso não apreciamos, não damos a atenção devida a aqueles que nos cultivam a cada instante.

     Ter embarcado mexeu comigo. Mexeu com o que um dia fora meu Norte e que agora assumiu a posição de Sul. Estar a bordo nessa incomum realidade embaralhou os meus livros, dos quais, por um bom tempo, já havia memorizado a respectiva posição na minha estante mental e, sem saber, acabei por escolher alguns errados, algumas histórias das quais não queria ser personagem e, de fato, não era. Provavelmente ainda esteja fazendo parte de uma narrativa, senão a minha, mas ter você aqui, mesmo não sabendo te interpretar apesar de todo esse tempo, é o que me faz continuar mexendo nas minhas estantes em busca do livro escrito com a minha história.

     Gostaria que soubesse que você é a minha exemplar referência e não tenho dúvidas de que papai e mamãe transbordariam de orgulho ao ver quem está se tornando.

     Até daqui a pouco,

     Z.

TEXTO – Al. Carolina Moura

REVISÃO – Al. Juliana Vieira

 

 

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