Navio-plataforma explode no litoral do Espírito Santo
A explosão em um navio-plataforma (FPSO) a serviço da Petrobras, na última quarta-feira (11/02), deixou, até agora, cinco mortos, catorze feridos e quatro desaparecidos. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), dos mortos, são quatro brasileiros e um indiano. O acidente ocorreu no início da tarde por volta das 12h50min em Aracruz, no litoral Norte do Espírito Santo. No momento do acidente, havia setenta e quatro pessoas a bordo do navio-plataforma cidade São Mateus, que se localiza a cerca de 40 km do litoral norte de Aracruz.
Em nota, a ANP declarou que ocorreu uma explosão na casa de bombas, a qual foi comunicada apenas uma hora depois. A agência informou que não houve vazamento de óleo no mar, que o fogo já foi debelado e que a plataforma já está estabilizada. De acordo com uma entrevista do representante do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) ao Bom dia ES, o acidente ocorreu na bomba de água oleosa localizada na casa de bombas, todavia especialistas apontam para a causa do ocorrido ser devido a um vazamento de gás. A Petrobrás afirma que a BW offshore, empresa norueguesa que opera a plataforma, está prestando toda assistência aos funcionários feridos e aos parentes das vítimas.
Aélcio Santos, oficial mercante e possuidor de especialização em segurança do trabalho, nos deu sua concepção sobre o assunto:
“Como sempre falamos em nossas aulas, acidentes não acontecem por casualidade ou por fatalidade. Todo acidente é provocado e tem a participação do homem.
Então, o que ocorreu, segundo relato de um colega nosso de profissão que está embarcado em uma plataforma, era quase uma tragédia anunciada, pois os vazamentos de gás ocorrem com frequência e as medidas de controle tomadas costumam ser paliativas. Não estou afirmando e nem julgando o comando da referida plataforma como negligente, pois também é de conhecimento que todos os procedimentos de segurança sempre são levados a sério por toda a tripulação. Mas, para evitar a ocorrência de um acidente, precisamos muito mais do que cumprir procedimentos, principalmente em um local de trabalho como o nosso. Temos que ser vigilantes o tempo todo e a qualquer sinal de falha da normalidade se deve agir imediatamente para que o acidente não ocorra.”
O que é um FPSO?
FPSO é a sigla para Floating Production Storage and Offloading. É um navio flutuante de produção, armazenamento e descarregamento de petróleo e de gás. Utiliza o sistema de processamento e armazenamento antes de qualquer descarga para um navio-tanque, ou serve para o transporte desses materiais para um gasoduto. Uma das vantagens do uso de FPSO na indústria offshore é que ele trabalha em conjunto com uma plataforma de petróleo/gás ou um modelo de submarino. Depois, ele processa e armazena o óleo/gás para descarga sempre que for necessário.
Os navios FPSOs utilizados nos campos de petróleo e gás têm a prerrogativa de poderem ser realocados em outro ponto. Conforme esses navios de estocagem não são mais necessários em um determinado campo petrolífero, eles são, simplesmente, transferidos para outra região, a fim de que possam ser aproveitados novamente. Em comparação com as instalações fixas, os FPSO’s possuem uma reIação custo-benefício muito mais elevada, já que as instalações fixas são mais caras e podem ser utilizadas em apenas um ponto.
Um navio FPSO tem outra vantagem sobre as plataformas fixas, pois não tem de ser uma estrutura construída propositadamente. A referida embarcação pode ser facilmente desenvolvida tomando por base a estrutura de um navio petroleiro, desta feita, dá suporte como um navio de transporte, reduzindo assim custos e proporcionando uma estrutura eficaz ao setor offshore.
O FPSO Cidade São Mateus foi o primeiro navio-plataforma para gás instalado no Brasil. O contrato entrou em vigor em 2009 e tem duração até 2018. Esta plataforma tem capacidade de armazenamento de 700 mil barris e de produção de 350m³ de óleo por dia e de 2.250.000m³ de gás por dia. O navio que tem dimensões de 322,07m de comprimento e 56m largura foi construído em 1989 como navio tanque, tinha onze metros de calado, bandeira do Panamá e estava afretado pela empresa BW Offshore.
Com tanta tecnologia e evolução na segurança marítima, por que ainda estamos sujeitos a acidentes desta natureza? Há um grande caminho a percorrer?
Segundo Renã Margalho, especialista em Direito Marítimo e Portuário:
“A evolução da segurança nos mares é notável, principalmente ao longo da última metade do século passado, até os dias de hoje. Após a criação da IMO, tornou-se uma rotina internacional a análise de fatores que tragam riscos para a operação em embarcações e a solução desses problemas, com propostas de convenções internacionais, que visam, exatamente, prevenir acidentes.
Políticas de segurança são falíveis. Devemos, então, reduzir ao máximo a possibilidade de acidentes, observando e aperfeiçoando todos os padrões de segurança exigidos por norma, tratando a segurança como prioridade absoluta. O trabalho a bordo de uma plataforma é perigoso e todos devem ter ciência disso. A rotina a bordo, algumas vezes, gera uma falsa impressão de segurança. No entanto, os tripulantes jamais devem esquecer o risco que envolve essa operação.
Os padrões de segurança devem ser obedecidos e constantemente aperfeiçoados, para que os riscos de acidentes sejam mitigados. Mesmo com todas essas exigências, a atividade continua e continuará sendo arriscada.”
E quais são as causas do acidente?
De acordo Aélcio Santos:
“A tecnologia é nossa grande aliada no controle e prevenção, mas ela apenas nos manda a informação, quem tem que tomar a decisão e agir é o homem. Então, é provável que no caso em discussão, que os sensores detectaram o vazamento de gás, mais alguém achou que seria de pequenas proporções e tomou a decisão de apertar os parafusos para estancar o vazamento, entretanto o local era de difícil acesso e não foi possível sanar a fuga do gás. Como a casa de bombas é cheia de equipamentos que operam em altas temperaturas, houve a ignição e a explosão. Ainda temos um longo caminho a percorrer sim, principalmente no que tange a aprender a utilizar os meios que temos para nos auxiliar como a tecnologia.”
Para Renã Margalho:
“Em síntese, ainda é cedo para apontarmos quais tipos de responsabilidades se encontram no caso. Pela lógica jurídica, a empresa responde pelos seus prepostos (empregados), então, mesmo que fique caracterizada falha humana, a empresa deve ser responsabilizada em várias esferas. A conclusão do inquérito é crucial para que analisemos com mais detalhes a responsabilidade.”
Acidentes deste tipo no cenário atual da evolução tecnológica estão cada vez menos frequentes, mas eles ainda acontecem e ficam marcados. Além disso, cada vez que ocorre um problema do tipo, não se perde apenas carregamento e milhões de dinheiro, perdem-se companheiros de profissão, que deixaram famílias desamparadas quanto ao futuro. Em momentos como este, os familiares de mercantes se questionam acerca da segurança do profissional que trabalha embarcado.
A equipe do jornal Canal 16 estará empenhada no acompanhamento do caso e qualquer informação relevante será repassada aos nossos leitores. Espera-se que com o fato a segurança naval tenha alguma evolução na prevenção de acidentes e melhorias a tirar da situação para que este tipo de ocorrência não se repita.