Mundo Naval #2: Navios Petroleiros

Hey guys! Após um final de semana triste aqui na Escola, voltamos à rotina. Fiquei muito feliz com a repercussão do post da semana passada, muitos comentários e compartilhamentos, começamos bem! Na matéria de hoje, exploraremos um tipo de navio tanque responsável pelo transporte de petróleo e de seus derivados, os navios petroleiros. Se você achava que os conteineiros eram grandes, prepare-se para conhecer esses gigantes!

Navios Petroleiros

Super petroleiro Knock Nevis em uma manobra de transferência de carga.

 

[cml_media_alt id='17924']Gravura do Séc. XVI mostrando a extração de Betume natural[/cml_media_alt]

Gravura do Séc. XVI mostrando a extração de Betume natural

            O petróleo está para os petroleiros assim como os contêineres estão para os conteineiros. Não se engane em pensar que ele só foi descoberto no século XIX, sua história e utilização nos leva a Mesopotâmia 3000 a.C.. Sabe-se que, naquela época, ele não tinha o uso comercial que tem nos dias atuais. Na medicina, era usado como bálsamo, fumígeno no controle de pragas e até como laxante (imagine-se tomando petróleo!). Após certo tempo, os militares começaram a pesquisar outros possíveis usos e descobriram que, às vezes, esse óleo se encontrava na forma de betume ou piche (uma forma mais viscosa do petróleo que pode ser encontrada na natureza ou obtida artificialmente através do refino) e utilizaram-no para fixar as pontas das flechas em seu corpo de madeira. A história diz que Alexandre, o Grande, ateava fogo nessa substância e atirava-a nos campos de batalha, a fim de assustar os elefantes de guerra dos inimigos.

              Por muito tempo, a utilização do petróleo sempre foi modesta, resumindo-se a pouco mais do que foi citado acima. Somente a partir do Século XIX, sentiu-se um aumento na demanda dessa substância. Naquela época, a maioria das máquinas funcionavam a vapor e, portanto, não utilizavam petróleo como combustível. O custo de mineração e estocagem do carvão era tão baixo que a única vantagem do petróleo (ser líquido) não era levada em consideração. Porém, passou-se um tempo, os engenheiros notaram a necessidade de lubrificação das partes móveis de suas máquinas, e aí entra em cena um químico escocês chamado James Young. O petróleo já era utilizado na produção de combustíveis para lâmpadas e de lubrificantes de baixa qualidade. James foi a primeira pessoa a conseguir refinar apropriadamente o petróleo cru em suas várias formas comerciais, principalmente a parafina. 

[cml_media_alt id='17942']James Young[/cml_media_alt]

James Young

            O grande desejo de Young era ser acadêmico, ele tinha um futuro promissor, porém, o desejo de casar era ainda maior e,  com seu salário de professor, teve que procurar outra alternativa. Em 1847, Lyon Playfair, um amigo de longa data, convidou James para analisar um pequeno vazamento de petróleo no teto de uma mina de carvão. O líquido que saía tinha uma viscosidade parecida com a do azeite e, em dias frios, tornava-se praticamente sólido, James Young então descobriu que poderia extrair produtos comercialmente viáveis. Ele patenteou o processo de extração e produção e, em 1851, fundou uma empresa a qual, em dez anos, gerava tanto lucro que poderia se casar quantas vezes desejasse.

                No começo da década de 1850, o petróleo que era extraído de uma região, na época uma colônia britânica conhecida como Upper Burma tornando-se hoje o país Myanmar, era levado em vasos de barro até as margens do rio, só então, carregados nos porões dos primeiros navios tanques e levados até a Inglaterra. Com o crescimento da exploração de petróleo, os Estados Unidos, devido à forte ligação com a Inglaterra, foi um dos primeiros países fora da Europa a investir nesse setor.

                O primeiro poço de petróleo das Américas foi feito em 1859, nos Estados Unidos, no Estado da Pensilvânia. Inicialmente extraindo dez barris por dia e, após dois anos, já batia a marca de três mil barris por dia. A invenção do refino do petróleo disponibilizou o querosene como combustível para lâmpadas, substituindo o óleo de baleia, que, devido à pesca excessiva, estava tornando-se caro e difícil de encontrar. Nessa época, a produção de querosene já era suficiente para suprir toda a demanda de combustível para lâmpadas usadas, tanto em casa quanto nas ruas, iniciando, então, o comércio internacional de petróleo e seus derivados.

Os Primeiros Petroleiros

                      Navios de carga-geral e balsas eram os meios utilizados, naquela época, para o transporte do petróleo, no entanto, esbarravam em um grande problema: a forma como eram transportados. A única forma que se dispunha para o armazenamento era o barril de madeira, que comportava 150 litros e pesava 29 quilos, ou seja, 20% do peso total de um barril cheio. Além do peso, os barris vazavam muito, o que implicava em só poder utilizá-los uma vez, e seu custo de produção também era alto.

                     Os primeiros petroleiros que se tem notícia foram dois veleiros construídos, em 1863, na Inglaterra. Após dez anos, o primeiro petroleiro a vapor, chamado de Vaderland, foi entregue a Red Star Line, uma empresa composta por estadunidenses e belgas. Pouco tempo depois, as autoridades proibiram que o Vaderland navegasse devido a possíveis falhas de segurança.

                      No período de 1877 a 1885, houve um grande avanço no desenvolvimento dos petroleiros. Os irmãos Ludvig e Robert Nobel (irmãos de Alfred Nobel, o criador do prêmio Nobel) fundaram a Branobel, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo na época. Ludvig foi um pioneiro no desenvolvimento dos petroleiros, enfrentou diversas desafios em seus projetos, como manter as chaminés e a carga distantes da praça de máquinas a fim de evitar incêndios, desenvolver um método que possibilitasse a expansão e contração da carga devido às variações de temperatura, dutos de ventilação, entre outros.

[cml_media_alt id='17947']Zoroaster, o 1º Navio Petroleiro[/cml_media_alt]

Zoroaster, o 1º Navio Petroleiro

Em 1878, foi entregue a Ludvig o navio Zoroaster, considerado o primeiro navio petroleiro realmente preparado para transportar petróleo e seus derivados. Ele era capaz de carregar 245 toneladas de querosene distribuídos em dois tanques de ferro ligados por tubos, tinha 56 metros de comprimento, 8.2 metros de boca (largura) e 2.7 metros de calado (medida da linha d’água até a parte mais funda do navio).

Em 1883, o engenheiro britânico Coronel Henry F. Swan, trabalhando para os irmãos Nobel, desenvolveu um novo desenho estrutural dos tanques dos navios petroleiros. Ao invés de ter um ou dois grandes tanques, ele os dividiu em vários tanques menores e mais largos, divididos em tanques de bombordo (esquerda) e boreste (direita) por uma antepara (estrutura vertical que subdivide uma embarcação em compartimentos ou em regiões estanques).

[cml_media_alt id='17948']Glückauf[/cml_media_alt]

Glückauf

Outro projeto pioneiro do Coronel Henry F. Swan foi o navio Glückauf. Ele incorporou melhorias, como um motor dedicado, exclusivamente, à propulsão. Foi o primeiro navio a ter um sistema de bombeamento direto de petróleo para os tanques, primeiro navio-tanque a possuir anteparas na horizontal, tanque de lastro, comando de abertura de válvulas diretamente no passadiço, entre outras. Infelizmente, em 1893, enquanto navegava em meio a neblina, encalhou e foi esquecido.

A brincadeira começou a ficar séria quando, em 1903, os irmãos Nobel construíram dois navios movidos por motores de combustão interna. The Vandal, o primeiro navio impulsionado por motores Diesel-Elétricos, era capaz de transportar 750 toneladas de petróleo refinado graças aos seus três motores diesel de 120 cavalos cada. Não demorou muito para os adversários dos irmãos Nobel construírem o Mysl, o primeiro navio movido à combustão interna capaz de cruzar os mares com incríveis 4.500 toneladas de petróleo refinado. Entretanto, os irmãos logo construíram um navio capaz de transportar 4.800 toneladas, ultrapassando seu adversário.

A Era dos Super Petroleiros

[cml_media_alt id='17974']T2 Tanker[/cml_media_alt]

T2 Tanker

Por bastante tempo, o tamanho dos petroleiros não modificou muito. Desde a época dos irmãos Nobel, as maiores modificações ocorreram durante as 1ª e 2ª Guerras Mundiais e, gradativamente, eles foram aumentando de tamanho significativamente, para se ter uma ideia, o navio tanque T2 (utilizado em larga escala durante a 2ª Guerra Mundial) media 162 metros de comprimento e podia carregar 16.500 toneladas de combustível. Os modernos ULCC’s (Ultra-Large Crude Carriers) medem por volta de 400 metros de comprimento e podem carregar mais de 500.000 toneladas de combustível.

                      Em 1947, começaram a construção dos grandes petroleiros, inicialmente com o Bulkpetrol e seus 30.000 DWT (deadweight ou peso-morto, que é a quantidade de carga que um navio pode carregar sem afetar sua estabilidade), porém muitos afundaram devido à tecnologia de solda ainda não ser muito bem compreendida. Em 1952, foi dado um dos maiores avanços na construção naval, o método de construção por blocos, primeiramente implantado no Japão, no estaleiro Kure, na construção do navio Petrokure de 38.000 DWT. No mesmo ano, foi construído também um petroleiro de 45.000 DWT, mostrando a eficiência desse novo método de construção. O ritmo continuou assim por vinte anos, com navios chegando ao patamar de 106.000 DWT, dez vezes maiores que aqueles do começo do século XX.

                      O ápice da construção de petroleiros foi em 1979, com a entrega do super-petroleiro Seawise Giant, que foi renomeado quatro vezes e ficou mundialmente famoso pelo nome de Knock Nevis. O gigante, que está ilustrado no topo da matéria, media nada menos que 458.45 metros de comprimento, 68.8 metros de boca (largura) e 24.6 metros de calado, tinha 46 tanques e um convés com área de 31.541 m², além disso, era capaz de transportar 564.763 toneladas! Levava cerca de 10 km para reduzir de sua velocidade máxima de 16 nós (30 km/h) a zero.

[cml_media_alt id='17960']Comparison_of_Knock_Nevis_with_other_large_buildings.svg[/cml_media_alt]

                       Todas essas características fizeram do Knock Nevis o maior e mais pesado objeto já construído pelo ser humano. Em 2009, foi vendido para uma empresa de desmontagens de navios da Índia. Foi renomeado como Mont, e seu processo de desmontagem levou cerca de um ano para ser completado, devido as suas imensas proporções e às primitivas técnicas de desmontagem dos sucateadores indianos. Mesmo sendo totalmente desmontado, sua âncora foi preservada e levada para o Museu Marítimo de Hong Kong.

 

                   Percebemos que, ao longo da história, aquele líquido preto, que, no início, só servia para acender lamparinas, tornou-se um dos principais produtos comercializados ao longo dos últimos dois séculos. O ser humano ainda é muito dependente de tudo o que o petróleo pode nos proporcionar e, graças aos navios petroleiros, podemos suprir a demanda em várias partes do planeta.

                   Para finalizar, um vídeo produzido pela BBC a bordo do Knock Nevis. Espero que tenham gostado, semana que vem tem mais! Valeu!

Equipe da postagem:

Al. Calado – Texto

Al. Gabriela – Revisão ortográfica

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Fontes:

Al. Calado

Aluno do 3º Ano do Curso de Náutica

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