Diário da POM Natane Alves

1 – Fale um pouco de como foi a experiência de sua praticagem de maneira geral.

 

Olá, meu nome é Natane Alves, sou maquinista e me formei em 2018. Tenho quase 4 meses de praticagem.

Primeiro dia de embarque foi em Out/19. Embarquei no Mercosul Santos, no porto de Santos. Um dos portos mais cansativos porque maioria das vezes tem recebimento de pedidos (peças, ferramentas, equipamentos e etc.), de HFO (Heavy Fuel Oil), de Diesel (mais raro), Lub Oil (óleo lubrificante) e pode ter também descarga de Sludge (borra). Então, normalmente, tem bastante trabalho em Santos, logo, não podemos ir pra terra. No dia do meu embarque estávamos recebendo combustível, passamos a madrugada no bunker (como a gente chama recebimento de óleo) e foi extremamente cansativo! Mas achei que seria importante ficar lá com a tripulação mesmo não entendendo nada, afinal, era meu primeiro dia, certo?

Eu estou praticando na Mercosul Line e aqui o praticante deveria mudar de navio de 4 em 4 meses pra conhecer outras formas de administração, se familiarizar com o máximo de equipamentos e procedimentos possíveis, mas é mais flexível. Se você quiser ficar mais tempo, é só comunicar ao seu superior direto (Chefe de Máquinas ou Cmt) e existindo a possibilidade, você fica sem problemas. Em dezembro nós somos liberados pra passar o final de ano com nossas famílias, já que a família do pessoal de bordo costuma passar o fim de ano no navio. Se quiser ficar a bordo, pode também contanto que o número de tripulantes+passageiros não exceda o máximo do navio.

Fui muito bem recebida no Mercosul Santos e Mercosul Guarani (onde estou embarcada hoje). Todos sempre falavam pra mim: “É só mostrar interesse que dá certo.” Maior verdade!

 

POM Natane Alves.

Rotina a bordo do Mercosul Santos:

08h Briefing na máquina (Um chefe era 08h, o outro era 07h45)

12h Almoço

13h30 Máquina

17h30 Fim do expediente

Rotina a bordo do Mercosul Guarani:

07h45 Briefing na máquia

12h Almoço

13h15 Máquina

17h30 Fim do expediente

* Manhã e tarde normalmente tem uma pausa pra um cafezinho.

O Oficial de Serviço é responsável pela condução da máquina. Conduzir a máquina é manter tudo em perfeito funcionamento. São feitas, no mínimo, 2 rondas diárias (manhã e noite) pra verificar níveis de combustível, lub oil, temperaturas, pressões, verificar se tem algum barulho/tremor diferente, inspecionar se tem vazamentos e etc. Isso é fundamental a gente aprender a fazer. Quanto mais a gente anda pela máquina mais entende o que tá acontecendo e fica mais sensível pra alguma possível mudança. E quem não está de serviço? Manutenção! Melhor parte! No briefing que a gente tem de manhã o Chefe e Subchefe determinam o que vai ser feito no dia e a gente segue esse planejamento.

 

2 – Conte-nos sobre a empresa e o(s) tipo(s) navio que embarcou. Deu para desembarcar em algum porto?

 

A Mercosul Line só tem porta-containers.

Rota do Santos: Itajaí (SC), Paranaguá (PR), Santos (SP), Itaguaí (RJ), Suape (PE), Pecém (CE), Manaus (AM).

Rota do Guarani: Buenos Aires (AR), Montevideo (UR), Rio Grande (RS), Itajaí (SC), Santos (SP), Suape (PE), Pecém (CE), Salvador (BA)

Com exceção de Santos, todos os portos são liberados!!! Nós de máquinas ficamos presos quando tem alguma manutenção que só pode ser feita com o navio parado. Mas normalmente essas manutenções são excelentes pra aprender, então, sinceramente, vale a pena ficar a bordo.

Os dois navios possuem academia e salão pra ver filme, jogar algum jogo etc.

O processo seletivo da Mercosul aconteceu em Novembro/18. Os responsáveis pela Comissão de Praticagem ficaram responsáveis por anotar o email de todos que queriam participar do processo seletivo porque as primeiras etapas seriam online.

Dia 19/11/18 recebemos e-mails com informações dos testes online que iríamos fazer. Teste de concentração, lógica, personalidade. Na mesma semana fizemos uma prova de inglês com +- 50 questões (não lembro ao certo a quantidade) e uma redação com um tema “A Cabotagem no Brasil”, ou algo parecido. Dia 28/11/18 recebi o email dizendo que tinha sido aprovada para entrevista que seria no mesmo dia, à tarde. Dia 07/12/18 recebo o email confirmando minha aprovação e pedindo que eu realizasse mais um teste, o Marlins. É uma prova de inglês específica para Marítimos.

A empresa aproveita muito os praticantes. O percentual de contratação é muito convidativo.

Regime de embarque segue o normal de cabotagem: 58×58.

Bolsa de 1189,00 para navios que só rodam pelo BR e de +- 1600,00 para navios que vão pra AR e UR, quando sai do BR ganha diária em dólar.

Única coisa que não me agradou foi a demora no embarque e a ausência de informações. Normalmente avisavam 2 dias antes pra dizer que você ia embarcar em tal lugar. Mas fora isso, é uma empresa excelente. Tem navio muito bom pra aprender e tripulação 100% disposta a ensinar. Uma experiência surreal estar a bordo, sério.

3 – Precisou utilizar língua estrangeira? Quais foram as maiores dificuldades encontradas? E que atividade mais se identificou?

Sim, precisei! No meu primeiro embarque tinha um gringo a bordo. Mr Cornel é um chefe de máquinas da CMA CGM (dona da Mercosul Line) que foi designado pra fazer inspeções no setor de Máquinas nos navios da Mercosul. Ele basicamente tinha que verificar se os documentos estavam atualizados, nas pastas corretas e avaliar a tripulação. O chefe do Santos, C/E Fernando, disse pra que eu acompanhasse e ajudasse o Mr Cornel. Fui aprendendo e ajudando o Mr Cornel em inglês. Foi uma oportunidade muito boa pra mim, pelo inglês, pelo aprendizado e pela relação interpessoal também. Entender, respeitar e saber lidar com pessoas de outra cultura é crucial na nossa profissão.

A maior dificuldade foi saber lidar com a frustração de saber tão pouco. Eu sempre me apoiei na frase que ouvi inúmeras vezes: “A bordo praticante chega sem saber de nada, relaxa, lá você aprende.”. Só que na realidade eu odiava não saber das coisas… De fato, a bordo você absorve muito mais rápido as informações, mas na escola a gente ganha uma base excelente pra que essas informações entrem da forma certa. Sim! A gente ganha base sim! Nossos professores de Máquinas são excelentes, mas normalmente a rotina apaga o brilho, eu sei. Então, praticamente desde o primeiro embarque eu venho estudando (inclusive estudo também com o material do CIABA) pra saber e entender cada vez mais.

A melhor atividade é manutenção, com certeza. Eu acho proveitoso do começo ao fim. As vezes é extremamente cansativo, tendo em vista que em navio os equipamentos e máquinas auxiliares são maiores, mas é muito interessante todo o processo da manutenção.

4 – Aos alunos da EFOMM, quais dicas você daria e quais matérias foram mais importantes no seu curso para a praticagem?

 

Sem sombras de dúvidas: MAQ, MCI, AUT, ING.

ING porque todos os manuais são em inglês! O inglês técnico do CIABA é sensacional, o Jota é excepcional.

MAQ (todas) e MCI (todas) porque é o nosso trabalho puro. Eu ainda uso as apostilas e com certeza vou continuar usando.

Pra ser um profissional diferenciado, melhor, mais necessário, acrescente: FAM e TSO.

Importante também estudar ferramentas pra não chegar no navio tão perdidx, já que o que fazemos é auxiliar os oficiais.

 

5 – Qual sua expectativa em relação a profissão e aos futuros embarques?

Minha expectativa é o mais alta possível. Tenho interesse em dar continuidade na ascensão de cargo à medida que eu estiver pronta o suficiente para tal. Cada embarque tem pontos positivos e negativos, o que a gente precisa fazer é: se adaptar!

É interessante mudar de navio pra conhecer outras pessoas, observar qualidades e defeitos, decidir o que você quer aplicar na sua vida profissional e o que você precisa se afastar.

Jornal Canal 16, navegando com você!

 

TEXTO – Al. Matias

REVISÃO – Rayane Ferreira

REVISÃO – Al. Sthephany

 

 

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