Diário da PON Amanda Barbosa

1 – Fale um pouco de como foi a experiência de sua praticagem de maneira geral.

 

Meu nome é Amanda, sou praticante de Náutica e terminei o CIABA em 2018. Demorei um pouco para começar a embarcar (comecei minha praticagem em Agosto do ano passado e agora que completei 7 meses de embarque).

Tô praticando na DOF, cuja escala é 3×1 (3 meses embarcado e 1 em casa). Meu primeiro barco foi o Skandi Iguaçu, e me sinto agraciada por ter sido ele, porque eu cheguei muito perdida (risos), mas tive pessoas incríveis que me acolheram e tiveram toda paciência do mundo para me ensinar e me relembrar – muitas – das coisas. Na maior parte da praticagem, tirei serviço de 06 às 18, com exceção de um mês que tirei 18 às 06, e outro que tirei 12 às 24. O melhor horário para mim, sem dúvidas, é 06 às 18, porque é o momento que tudo acontece.

Antes de começar a praticar, nunca imaginei que conseguiria tirar 12 horas de serviço (risos), mas me acostumei rápido. Dá para fazer muita coisa! Participar das operações, ir ao convés, mexer com a papelada, responder os e-mails, organizar os paióis, estudar, enfim, muita coisa. Tem dias que são mais produtivos, outros nem tanto, mas faz parte, é bastante tempo para aprender as coisas, então não tem porquê se cobrar tanto (minha opinião).

 

2 – Conte-nos sobre a empresa e o(s) tipo(s) navio que embarcou. Deu para desembarcar em algum porto?

 

A DOF é uma empresa Offshore, que trabalha com vários tipos de embarcações: AHTS, RSV, PLSV, etc. Até então, eu passei em 2 AHTS – manuseio de âncora – (Skandi Iguaçu e Skandi Paraty) e 1 RSV – barco com ROV – (Skandi Commander). Como nosso objetivo é mais operacional, os barcos ficam pouquíssimo tempo no porto, ou seja, não dá para sair. Vale ressaltar que nesses barcos que eu passei, todos têm academia, sala de tv com videogame, todos os camarotes têm tv com diversas opções de canal.

O processo seletivo da DOF consiste em: a empresa envia, normalmente, 5 vagas de cada curso para o CIABA que, por sua vez, envia 15 currículos para eles analisarem. Dentre esses 15, eles escolheram 10 (se não me falhe a memória) para fazer a entrevista via Skype. Depois da primeira entrevista, eles escolheram 7 para fazer a segunda entrevista (também via Skype). Depois da segunda entrevista, eles escolheram os 5 e fizeram mais uma entrevista, via telefone, em inglês.

 

As entrevistas duraram cerca de 15 minutos cada.

As perguntas feitas para mim foram basicamente essas:

“O que você sabe sobre a DOF?”;

“Por que você escolheu a DOF?”;

“Qual navio da DOF você gostaria de trabalhar?”;

“Como você acha que vai ser sua vida a bordo?”;

“Por que EFOMM?”;

“Por que Náutica?”;

“Cite um defeito e uma qualidade”;

E na minha entrevista em inglês:

“Tell me a little about yourself”;

“Why did you chose DOF?”;

“How do you deal with challenges?”

 

Uma dica para a entrevista: esteja preparado, planeje as respostas (não seja clichê), estude, se grave, treine com alguém, porque fazendo assim, você não ficará tão nervoso na hora da entrevista, funcionou comigo, pelo menos (risos).

 

3 – Precisou utilizar língua estrangeira? Quais foram as maiores dificuldades encontradas? E que atividade mais se identificou?

 

Até o momento só passei por barco de bandeira brasileira, então não tive contato com tripulação mista. Mas durante boa parte das operações com as plataformas, a gente usa inglês sim, principalmente quando tem um aliviador operando simultaneamente (os Comandantes sempre são gringos). Mas não é nada de outro mundo e a pessoa acaba se acostumado com os termos, ruído do rádio, etc.

 

4 – Aos alunos da EFOMM, quais dicas você daria e quais matérias foram mais importantes no seu curso para a praticagem?

 

Se eu pudesse voltar na minha época do CIABA, eu teria estudado MUITA coisa diferente. Teria me importado menos com algumas matérias e focado mais em outras.

Eu acredito que o fato da gente ter só 3 anos de formação e muita matéria de uma vez acaba atrapalhando na absorção de matérias que realmente importam – na minha opinião – como:

 

  • Arquitetura naval: não, não estou falando de saber todas as partes do navio como cai na prova de Rommel (risos), mas saber identificar as principais partes, vozes de manobra, como diz a amarra, essas coisas acabam virando básicas no dia a dia a bordo;
  • Navegação: aprendam a plotar posição, corrigir carta, leiam o RIPEAM;
  • Manobra: cada embarcação tem sua configuração, mas se você souber a teoria, ajuda na prática;
  • Informática: a parte de programação teve um total de zero importância para mim, então aproveitem para aprender Excel e Word, porque isso realmente ajuda a bordo;
  • CBO (Conceitos Básicos de Offshore);
  • EROG (Especial de Rádio Operador Geral);
  • OCE (Operador ECDIS);
  • Meteorologia;
  • Telecomunicações: nada muito aprofundado;
  • TFM: eu sempre escamava, tirava 6 na corrida (quando eu passava de primeira) e hoje em dia sofro para subir todas as escadas (risos);
  • Toda parte de Segurança e Salvatagem.

 

Com certeza eu devo tá esquecendo uma ou outra, mas essas são as que eu teria me dedicado mais na Escola.

E por último – e mais importante PARA MIM – RELAÇÕES INTERPESSOAIS! Gente, não adianta saber tudo sobre todas as matérias se você não sabe se relacionar com pessoas. A profissão fica bem MAIS difícil de ser vivida. O fato de você não poder voltar para casa no final de um dia estressante torna as coisas mais delicadas.

Aprenda a lidar com todo tipo de pessoa, saiba escutar, conversar e aceitar as coisas. Muitas das vezes, não vale a pena discutir, então aprenda a engolir muitos sapos, ainda mais sendo praticante né (risos).

Nossa profissão é maravilhosa! Tudo é muito interessante e cada dia você aprende (a ser) uma coisa nova.

 

5 – Qual sua expectativa em relação a profissão e aos futuros embarques?

 

Apesar do mercado ter piorado bastante devido à pandemia, a gente tem que manter a esperança viva. A DOF é uma empresa que costuma contratar os seus praticantes (por mais que demore às vezes), então espero que em breve eu possa ser a piloto de algum fera meu para gente compartilhar os conhecimentos e eu poder tornar esse período mais leve, porque o piloto influencia MUITO na nossa rotina, até porque são 6 ou 12 horas de serviço né. Inclusive, vou aproveitar o gancho para dizer que sou muito grata por todos os pilotos com quem tive o prazer de trabalhar (10 até agora). Coleciono as características boas de cada um para que eu possa ser a profissional que tanto almejo. Não só os pilotos, como todo o pessoal do passadiço. Deus tem sido muito bondoso comigo na escolha das tripulações e barcos, pude conhecer pessoas incríveis que vou levar para vida inteira.

E para finalizar, meu sonho que a briga Náutica x Máquina fosse só na Escola! Gente, TODO MUNDO é importante a bordo, até porque se não fosse, não teria porquê existir tal função.

Enfim, espero ter passado um pouco da minha experiência até então na praticagem e espero encontrar vocês pelos mares da vida.

 

Jornal Canal 16 – Navegando com você!

 

TEXTO – Al. Maria Elena

REVISÃO – Al. Matias

 

 

Al. Maria Elena

Aluna do 3º ano de Náutica, pernambucana, apaixonada pela imensidão do mar. Vice presidente do JC 16, se esforçando para fazer o bom uso das palavras. De um jeito amador, se diverte sendo atleta de futsal do CIABA. Integrante da equipe financeira da Sociedade Acadêmica Vikings. Inspira e respira sonhos diariamente, carregando a fé e o sorriso por todo lugar.

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