Diário do POM Arthur Santos

1- Fale um pouco de como foi a sua experiência de praticagem

Pra iniciar quero dizer que é uma satisfação imensa de estar participando do quadro Fala Pratica, desse jornal o qual tive a honra de participar quando aluno do CIABA, e, mesmo ainda não tendo concluído a praticagem, poder estar passando alguma visão que possa somar a vocês que logo estarão singrando esses mares. Bem, eu estou na metade do meu período de praticagem, com 6 meses cumpridos, com experiência em dois barcos de apoio offshore. As experiências vividas foram muitas até agora, pois tudo é muito novo a partir do momento que você embarca. Desafio diário em aprender na prática as coisas que foram vistas na Escola, aquelas que achávamos que tínhamos aprendido e aquelas que não aprendemos. A realidade de bordo das embarcações ainda destoa muito do que a gente vivencia na Escola, mas você tendo uma visão básica de como é a bordo, já ajuda bastante a não embarcar achando que será fácil, pois não é.

POM Arthur Santos

 

2- Conte- nos sobre a empresa e os tipos de navios que embarcou. Desembarcou em algum porto?

Estou fazendo a praticagem na Norskan Offshore, empresa do grupo DOF Brasil, companhia do setor offshore que possui diversas embarcações de apoio marítimo. Tive a oportunidade de começar meu embarque em um barco AHTS (Anchor Handling Tug Supply), com propulsão em linha de eixo, onde pude aprender as particularidades desses tipos de embarcações. Meu primeiro embarque já foi com a embarcação no estaleiro, então não cheguei navegando nem vendo o barco em operação, entretanto foi uma excelente oportunidade que tive em poder acompanhar diversas manutenções e aprender os procedimentos da empresa em relação às documentações de segurança em trabalhos simultâneos, pois no estaleiro são muitas as frentes de trabalho realizando atividades ao mesmo tempo, logo, seguir procedimentos de segurança é fundamental para que não haja acidentes.

Meu segundo embarque foi em RSV (ROV Support Vessel), embarcação com propulsão diesel-elétrica, foi nesse embarque que comecei a vivenciar a rotina de um maquinista (2OM), quarto de serviço noturno de 12horas, suas obrigações e estar sempre acompanhando as atividades inerentes à função. Acredito que foi o período que mais pude me dedicar aos estudos e a retirar as minhas dúvidas, visto que no primeiro embarque estava mais ligado à manutenção e não à condução da máquina, sem falar na correria e rotina maluca que é o barco no estaleiro. Acredito que todas as visões são válidas para o nosso aprendizado como praticante.

 

Em relação ao desembarque no Porto, por conta dos procedimentos do COVID-19 não é permitido embarque/desembarque que não seja para a troca de turma.

 

3- Usou alguma língua estrangeira? Quais foram as maiores dificuldades? Quais atividades mais se identificou?

O inglês é fundamental na nossa profissão, até agora embarquei em barcos com tripulação 100% brasileira, porém há barcos na frota da empresa com tripulação mista, então o uso do inglês é bem mais recorrente. É válido lembrar que os manuais de bordo em sua maioria são na língua inglesa, nesse sentido o inglês é muito utilizado.

 

Uma das minhas maiores dificuldades a bordo foi de organizar meu tempo para trabalho, estudo e descanso. Diariamente recebemos inúmeras informações novas, então para aqueles que tem o hábito de anotar/revisar o que foi aprendido para fixar, que é o meu caso, complica bastante pois as vezes o dia era cansativo demais e tinha que arrumar um tempo, mesmo que pouco, para revisar como foi o dia e relembrar o que de novo foi aprendido.

 

A rotina de maquinista é bem puxada, pois ele é responsável pela parte burocrática da máquina, pela condução da máquina, pelas manutenções que vão desde equipamentos da praça de máquinas até manutenções que necessitem na superestrutura, por exemplo, as privadas dos camarotes. Como praticante você sempre está presente nas fainas que aparecem, então costuma ser bem cansativo! Das atividades que eu mais me identifiquei até o presente momento foram as manutenções de equipamentos, mas vale lembrar que geralmente essas atividades são de responsabilidades dos subchefes das embarcações, então é sempre bom acompanhar para aprender e começar a ter o feeling de solucionar problemas, porém como seremos após formados, oficiais de quarto, aprender a conduzir a praça de máquinas é a prioridade do praticante.

 

 

4- Aos alunos da EFOMM, quais dicas você daria e quais matérias você considera importante no seu curso para praticagem?

Acredito que a Escola nos dá embasamento do que encontraremos a bordo, mas não com tanta clareza. Porém, têm algumas matérias que eu julgo importante você dar uma atenção melhorada ainda na escola que são: MAQ (Máquinas auxiliares), ELE (principalmente a parte de comandos elétricos) e refrigeração. Apesar que nos barcos pelos quais passei, o chefe de máquinas que é o responsável pela refrigeração de bordo, mas é sempre bom ter uma noção do sistema de refrigeração. No mais, meu conselho maior aos alunos que logo embarcarão é que tenham em mente que não adianta você ser bom nas matérias técnicas se você não possui uma boa relação interpessoal no ambiente que convive. Desde a escola somos inseridos em um ambiente de convívio mútuo com muitas pessoas diferentes de nós, mas há um escape, a bordo das embarcações esse escape é mais difícil, não dá para você pular no mar e sair nadando, então saber lidar com divergências de opiniões, saber se portar em um ambiente profissional, é um passo muito bem dado para o sucesso.

 

 

5- Qual sua expectativa em relação a sua profissão e aos futuros embarques?

Ainda tenho mais seis meses para a conclusão desse período de praticagem, tenho certeza que há muito a ser aprendido para vir a ser um oficial de máquinas. A caminhada é árdua, mas a cada dia que passa, a cada novo conhecimento que adquiro, mais orgulho tenho de fazer parte dessa profissão tão nobre. O cenário com o COVID-19 deu uma atrasada nos embarques, mas aos poucos está se restabelecendo. A expectativa é dar o melhor e buscar sempre evoluir, pois não sabemos como estará o mercado daqui a seis meses, um ano ou dois. Só não podemos ficar parados. Um forte abraço!

Revisão – Al. Juliana Vieira

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