Entrevista com o Engenheiro Douglas.

Abaixo segue a entrevista concebida pelo engenheiro Paulo Douglas Santos de Vasconcelos, este ,que por sua vez, tem uma ampla experiência no ramo da engenharia e também uma ótima experiência na área naval. Aqui tentamos elucidar um pouco mais a relação feita entre o Maquinista e o Engenheiro.

1) Conte-nos um pouco da sua experiência no ramo da engenharia.

Desde a minha adolescência eu gostava de inventar ou consertar máquinas. Lembro que certa ocasião aos 14 anos (1974) eu li em um livro de física que a passagem da corrente elétrica em um fio de cobre enrolado em um prego produz um eletroímã – aí mãos a obra, enrolei algumas voltas de fio no prego e tasquei na tomada!!! Pumba!?!?. A minha sorte é que antigamente toda tomada tinha um fio fusível, o qual eu já estava acostumada a trocar. Em casa tinha uma bomba d’água que aprendi a consertar com um irmão mais velho. Consertei também uma televisão a válvula aos 12 anos.

Portanto, quero dizer que DEUS nos dar dons, aí cabe a cada um se enquadrar. Descobri que tinha o dom da engenharia. Em 1984 entrei na Albras como eng° Trainee e hoje sou eng° Máster com mestrado em mecânica dos fluidos, licenciado em química e doutorando em engenharia química com previsão de conclusão em 2011. Exerço a engenharia como uma arte na mesma empresa há 27 anos. Publiquei 7 trabalhos científicos nos EUA, estou escrevendo um capítulo de um livro sobre transporte pneumático de materiais granulados a ser publicado em Jun/11 na editora In Tech com sede na Áustria. Ganhei o primeiro (1999), segundo (2009) e terceiro (1998) lugares nacional e em 2008 o melhor trabalho na etapa estadual do prêmio CNI (Confederação Nacional da Indústria). Melhor trabalho da etapa regional em 2002 e segundo lugar nacional em 2007 do prêmio FINEP de Inovação Tecnológica (Financiadora de Estudos e Projetos). Ganhei em 2000 o prêmio Alcoa de Meio Ambiente.

2) Você começou sua vida profissional como técnico de manutenção naval, como foi essa experiência?

Em 1981 (no 3° ano de engenharia) comecei a trabalhar como auxiliar técnico de manutenção naval na empresa Odecam máquinas pesadas que era prestadora de serviços da CNA (Companhia de Navegação da Amazônia). Por essa empresa fiz o curso de eletricista bobinador no SENAI. O primeiro motor elétrico que eu liguei em 220 V, foi na sala de máquinas de um navio petroleiro da CNA. Lembro que fiquei muito nervoso era a minha primeira responsabilidade como profissional, eu sabia ligar o motor em teoria, mas fiquei com receio de morrer, a coisa não era como hoje, que tem a NR 10, norma que exigi que os trabalhos com eletricidade sejam feitos com segurança e de preferência com energia zero, tudo etiquetado com cartão de bloqueio, cadeado individual no disjuntor de alimentação do circuito.

3) Que relação faz com as máquinas da engenharia industrial e com as máquinas de um navio?

Um navio é mais que uma indústria é uma cidade flutuante com suas utilidades incluindo geração de energia (elétrica, térmica, pneumática, hidráulica, etc.) As máquinas de combustão interna e elétricas são fundamentais para acionamento de equipamentos na indústria e em um navio. Na indústria tem oficinas mecânicas de elétrica de eletrônica e instrumentação, bem como em um navio. O navio tem o seu almoxarifado com peças sobressalentes, mas ocorrem as emergências e aí o oficial de máquinas deve estar preparado para reparos de emergência fabricando parafusos, buchas e eixos nos tornos mecânicos, troca de componentes elétricos e eletrônicos, bem como calibrar transmissores de pressão, temperatura, vazão, etc.

4) Em sua opinião um maquinista tem condições de trabalhar na Indústria caso queira sair do ramo Mercante?

Sem dúvida, principalmente na indústria de construção naval, portos e montar sua própria empresa de manutenção e projetos. Uma sugestão para o maquinista que quer aumentar a sua empregabilidade em terra é fazer nas folgas um curso de engenharia mecânica, naval ou elétrica. Hoje é totalmente possível fazer o curso até embarcado via internet com algumas aulas presenciais. A Universidade Aberta Brasileira já é uma realidade – http://www.uniube.br/copese/ead/cursos/graduacao.php

5) Que relação faz entre um maquinista e um engenheiro?

No exterior o maquinista é chamado de engenheiro “ship engineer”.  A grade curricular da U. S. Merchant Marine Academy é composta de 12 períodos de 3 meses ( o ano da academia é composto por 3 trimestres) totalizando um mínimo de 4 anos e um máximo de 5,5 anos, portanto, nos Estados Unidos a carga horária de estudos do maquinista é equivalente a da graduação do engenheiro. A relação aqui no Brasil ou no exterior de um maquinista é muito semelhante a de um engenheiro que optou por trabalhar com manutenção preventiva, corretiva ou preditiva, os dois tem que cuidar da gestão da manutenção (plano de manutenção, itens de controle referentes ao desempenho das máquinas, melhoria da manuteniblidade dos equipamentos e etc.).

6) Antes de decidir ir para engenharia elétrica (UFPA) você fez a prova da EFOMM/CIABA e passou 2 vezes. Por que não resolveu seguir a carreira?

Naquela época (1978/1979) o curso não tinha equivalência aos cursos superiores. O Curso não dava opção aos formandos de fazer, por exemplo, concurso publico de nível superior. Hoje certamente a opção poderia ser diferente. Algumas vezes faço uma reflexão de como estaria a minha vida se tivesse optado em ser vapozeiro. O certo é que tenho um colega que hoje é prático e está muito bem. Mas não gosto de olhar para trás, estou muito feliz com o caminho que trilhei e agradeço todos os dias Ao SENHOR DEUS.

7) O Sr. tem conhecimento da grade curricular que os alunos de máquinas tem no CIABA? Acrescentaria algo mais que poderia nos ajudar no futuro?

Tenho conhecimento da grade. Em minha opinião essa grade curricular é bastante vasta para o tempo disponível para se absorver tanto conhecimento. São conhecimentos estudados nos cursos de engenharia mecânica, naval, elétrica, eletrônica e automação durante 5 anos. O maquinista certamente terá que optar na vida profissional em se especializar em uma das áreas do conhecimento da engenharia. Seria bom incluírem nas ementas o estudo de normas técnicas tipo NR 10 (serviços com eletricidade) NR 33 (espaço confinado), e outras normas técnicas usadas na construção e manutenção de embarcações marítimas.

8 ) Deixe uma mensagem para todos nós, em especial para os maquinistas.

Procurem estudar com afinco. Associem uma forma de aplicar os conhecimentos acadêmicos adquiridos no banco da sala de aula com a aplicação na vida a bordo de uma embarcação isso fará vocês não esquecerem o que aprenderam e os dará confiança no exercício da profissão. Mantenham se atualizados façam logo que puderem as pós-graduações relativas ao progresso na profissão. O domínio da língua inglesa é fundamental e o aprendizado de mais duas línguas fará a diferença. Boa sorte a todos tenho certeza que estão no caminho certo.

A Equipe Canal 16 agradece a entrevista.

Oficial Al Saulo.

Al. Marcus Leal

Aluno do 3° ano do curso de Máquinas.

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