Com carinho, Carolina – Último episódio

     SalvaPort, 31 de dezembro de 2023.

     Carinho,

     Foram tantas histórias que passamos, foram vivências tão sinceras que ainda tenho lembranças profundamente emotivas, as quais são capazes de me transportar para o momento exato o qual for de minha vontade recordar.

     Todavia, apresento aqui, uma única exceção para essa fala: não me lembro exatamente da causa específica que levou ao nosso primeiro contato. Decerto havia sido transferida, mas não recordo o motivo exato dessa mudança.

      Acredito que a razão de não ter uma lembrança precisa de nossos primeiros encontros seja o sentimento, atualmente já questionável, de que passaríamos um bom tempo juntos. Fui iludida simplesmente pelo conforto que sentimos devido às situações cotidianas, devido à rotina e devido à normalidade existente em nosso dia a dia.

     Já estou sentindo sua falta. E estou te escrevendo porque, em verdade, não sei se tenho coragem de me despedir pessoalmente, mas também não sei se algum dia tomará conhecimento destas minhas palavras.

     Você passou a me conhecer muito bem, afinal, esteve presente nos exaustivos momentos em que optei por externar meus pensamentos e preferências. Sei que sabe que não morro de amores por degraus e que, ao longo da vida, fui cercada de exemplares referências, sendo que uma delas sempre esteve ao meu lado. Em contradição ao que sinto pelos degraus, existe meu apreço pelas portas, uma vez que elas sejam capazes de conseguir nos tirar de um local simultaneamente nos colocando em outro, ambos distintos.

     Acredito também ter te contado que, durante a infância, costumava brincar bastante, mas pipa nunca foi um dos meus brinquedos favoritos. Entretanto, não posso dizer o mesmo a respeito de uma sereiazinha que possuía, pois adorava mergulhar aquela estátua em qualquer recipiente com água que cruzasse meu caminho!

     Sabe igualmente que sou uma grande fã de sucos – kiwi é o meu favorito – e aprecio ainda mais se forem tomados na companhia de pessoas donas de presenças acolhedoras, capazes de nos deixar confortáveis para conversar qualquer tipo de palavra e, acima de tudo, capazes de conversar a respeito de assuntos sobre os quais ninguém está pronto para falar.

     Hoje, com estes olhos marejados, estou te escrevendo. Talvez eu não tenha sido capaz de recordar o nosso primeiro contato, mas (in)felizmente recordarei o dia de nossa despedida. Saiba que foi um dos navios mais importantes em que já estive e o que mais me ensinou até o presente momento. Vou sentir muito a sua falta, mas ao longo de minha jornada contigo, também consegui aprender que não há angústia que sobreviva invicta ao tempo. Você me forneceu as cobiçadas serenas memórias de que precisamos diante das turbulentas realidades.

     Sentirei saudade e espero que um dia possamos nos reencontrar, pois estará eternamente guardado…

     Com carinho,

     Carolina.

TEXTO – Al. Carolina Moura

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