Quatro às Oito – Com carinho, Carolina

     Finalmente chegou o dia! Não tinha planejado vir para cá, mas vocês sabem como é… Eu estava lá parado, olharam para mim e disseram: “Vai ser você!”. Então eu vim. Não sabia o que esperar daquele navio, muito menos o que deveria fazer ali. Peguei minhas coisas e embarquei.

     Logo de início, um sujeito se aproximou e me deu boas vindas a bordo! Em seguida, um pouco mais baixo, sussurrou: “Você caiu para cima meu jovem…”. Naquele momento, não fez sentido, mas hoje, acredito finalmente ter entendido.

     Não era um navio muito grande em si, tampouco comparado aos que já tivera embarcado. Era singelo, mas tinha seu charme. Charme este que fui descobrindo e inconscientemente esquecendo com o passar dos anos, mas que ia me fazendo ter, a cada dia, mais apreço por aquela embarcação.

     Certa viagem, percebi que tínhamos a bordo uma pequena estátua de uma sereia, que ficava no passadiço como se estivesse observando tudo o que acontecia e todos que por ali passavam. Houve um dia, em que estava de serviço, em um dos melhores horários que se pode estar, na minha opinião e, ao mirar a estátua, paralisei meu olhar no espaço. Não sei de que forma, mas aquele objeto estava mexendo com este velho marujo. Era como se aquela sereiazinha estivesse a todo momento me importunando com perguntas e me fazendo pensar em coisas que já estavam há muito tempo esquecidas.

     Lembrei-me de certo embarque que fiz há alguns anos, no qual tive a oportunidade de conhecer diversos países, sendo a maior parte deles, europeus. Confesso ter sentido essa memória. O navio em que navegava possuía um tamanho considerável, de tal forma que era repleto de anteparas, o que dificultava a percepção dos dias e das noites, uma vez estando a bordo. Dito isto, era como se aquele trambolho de ferro flutuante fosse um portal. Um portal porque em uma noite eu ia dormir nas águas da Turquia, mas acordava atracado na Grécia e assim sucessivamente ao longo das diversas nações pelas quais passei! Também faço outra confissão ao dizer que o meu lugar favorito foi a Eslovênia! O motivo? Deixarei para uma outra hora…

     Voltando para nossa estátua, posso garantir que estava me trazendo carinhosas lembranças e, dessa forma, a percepção de como o hábito talvez retire os encantos das coisas mais simples às mais belas do nosso cotidiano. Um exemplar disso é exatamente aquela criaturinha de vidro que talvez sempre estivesse estado ali.

     Não vou mentir que ainda me encantavam os amanheceres vistos da asa do passadiço, mas também não nego que com a rotina o meu corpo foi se acomodando com diversas situações.

      Ainda na presença da silenciosa indagadora, parei para pensar no que me levou ao encontro dos mares. Em verdade, sempre quis ser um aviador! Contudo, acabei parando na marinha. Já até considerei ser um engenheiro agrônomo… Tenho ciência de que poderia ter sido alguém muito melhor, mas não me arrependo nem por um instante de onde estou! Escolheria a marinha quantas vezes fossem necessárias. Sou feliz. Gosto do que faço, gosto de navegar, não há nada que se compare a um café quente, em um dia de chuva, sobre um mar calmo! Este é um café que poucos têm a chance de tomar.

     Destravei o meu olhar quando a minha rendição do serviço chegou e tocou no meu ombro.

     Talvez realmente tivesse caído no sentido contrário.

     Tinha sido um quarto de serviço exaustivo e estava consideravelmente cansado.

TEXTO – Al. Carolina Moura

REVISÃO – Al. Juliana Vieira

Você pode gostar...