Vida Mercante #1: Fala Pratica com Thiago Soares

A partir dessa semana a Equipe Jornal Canal 16 começará uma nova sessão semanal, Vida Mercante, todas as quintas feiras irá ser postada uma matéria relacionada a fatos, vivências e experiências diversas do meio mercante. A estreia será marcada pelo início da sub-sessão “Fala Pratica”, pois a praticagem dos recém-formados estudantes da EFOMM é sempre um período de grande expectativa e dúvidas por parte dos alunos, esses esperam por tal momento desde o inicio do curso.

Essa semana, tivemos a honra de conversar com o 2OM Thiago Soares, formado no ano de 2013 na turma Leviatã, que acaba de concluir o período de estágios. Thiago nos contou um pouco do que aconteceu durante o seu período de embarque e dá importantes dicas para os futuros praticantes do curso de máquinas.

 

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2OM Thiago Soares em frente ao navio de sua empresa

1 – Fale um pouco de como foi a experiência de sua praticagem de maneira geral.

A praticagem, com certeza, caracterizou-se por um período de intenso aprendizado, no qual me deparei com os mais diferentes tipos de sistema, como o motor de combustão principal (totalmente automatizado, o qual, através de ação hidráulica, realizava abertura da válvula de exaustão e injeção de combustível, algo totalmente novo para mim); o sistema de geração de energia (4 geradores de energia/motores de combustão auxiliares, os quais possuíam um sistema de gerenciamento PMS – Power Management System -, permitindo total automatização nas operações de sincronismo e monitoramento de falhas); o sistema de geração de vapor/caldeira (permitindo a produção de vapor por recuperação, utilizando os próprios gases de escape originados da queima do motor de combustão principal ou através de um queimador auxiliar); dentre outros inúmeros sistemas, os quais tornam a sessão de máquinas totalmente interessante e, ao mesmo tempo, exigente. A cada dia, com problemas dos mais diferentes tipos aparecendo, percebi a necessidade de me preparar da melhor forma possível e o quão desafiadora foi a escolha de tornar-me um maquinista.

Além de ter a oportunidade de desenvolver conhecimentos técnicos, vocês podem ter certeza que o praticante evolui e cresce muito como pessoa, devido às intensas experiências e à exigência exacerbada a qual ele é submetido. Sou muito grato por todas as lições aprendidas e por todo o crescimento proporcionado, desde o momento que decidi entrar na EFOMM até o momento em que finalmente concluí a praticagem.

 

 

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Praticantes e Oficiais da turma Leviatã: De pé (da esquerda para direita): 2OM Gurgel, PON Lívia Franco, POM Layd’izis, PON Raoni, PON Elisa Falcão. De joelhos: 2OM Thiago Soares.

2 – Conte-nos sobre a empresa e o(s) tipo(s) navio que embarcou.

Felizmente, tive a oportunidade de embarcar numa excelente empresa, a ALIANÇA, na qual contei com oficiais e com uma guarnição que trabalham de forma séria e comprometida, servindo-me de exemplo para eu me tornar um bom profissional. Também tive a oportunidade de contar com excelentes profissionais, os quais possuem um conhecimento realmente extenso sobre máquinas e uma forma de trabalho admirável. Em algumas ocasiões, chegavam profissionais para bordo do navio, na maioria das vezes, estrangeiros, enviados para nos auxiliar a resolver problemas, até então, não resolvidos, comprovando, mais uma vez, o comprometimento da Aliança com os seu navios.

O navio o qual iniciei e concluí minha praticagem chama-se VICENTE PINZÓN (navio containeiro), o navio mais novo da empresa, na época em que embarquei (15/09/2014), o mesmo iria iniciar sua viagem inaugural. Nesse navio, tive a chance de ter contato com os sistemas de vanguarda da Marinha Mercante.

3 – Como foi a escala e rotas que navegou durante o embarque? Deu para desembarcar em algum porto?

A escala normal da empresa, atualmente, é 56 por 56 para os tripulantes já contratados, porém realizei o meu período de praticagem de forma ininterrupta (161 dias a bordo), passando todo o período com a CIR embarcada. A rota do navio foi bem diversificada, saindo de Manaus (Amazonas), indo para Pecém (Ceará), Suape (Pernambuco), Salvador (Bahia), Sepetiba (Rio de Janeiro), Santos (São Paulo), Rio Grande (Rio Grande do Sul), Itapoá (Santa Catarina) e Imbituba (Santa Catarina), proporcionou-me desembarque em praticamente todos os portos, o que me possibilitou conhecer diferentes regiões do nosso país e, periodicamente, estar em casa (mesmo que de forma bastante breve e, às vezes, corrida).

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Praticantes e Oficiais da turma Leviatã em frente aos navios Bartolomeu Dias e Vicente Pinzón.

4 – E como foi a adaptação à tripulação? Precisou utilizar língua estrangeira? Quais foram as maiores dificuldades encontradas?

A adaptação aos tripulantes foi bastante tranquila, sempre procurei ajudar e ter boa vontade com todos, fato que contribuiu para que eu fosse bem aceito pelos mesmos. Utilizei a língua estrangeira poucas vezes com algumas pessoas de terra, as quais vinham a bordo para nos auxiliar, porém enfatizo a necessidade do domínio dessa língua, independentemente se o praticante irá embarcar com estrangeiros ou não, pois todo o sistema de monitoramento de alarmes, manuais e lista de informações contidas no local do equipamento são em inglês, tornando, dessa forma, essencial o domínio dessa língua (principalmente o inglês técnico).

As maiores dificuldades, com certeza, serão encontradas nos primeiros meses, nos quais o praticante irá se deparar com um sistema totalmente particular daquele navio, e, apesar de possuir toda a base teórica e alguma parte prática acumuladas nos três anos de formação, nada se compara a experiência de estar de fato num navio: tudo é difícil! Seja o manuseio com ferramentas, o entendimento do vocabulário que o pessoal de bordo utiliza (Tutesco – Tubo telescópico -, Valex – Válvula de exaustão -, dentre outras abreviações e vocabulários comumente utilizados) e, até mesmo, entender de fato o que está sendo consertado, o que está “pegando”, porém, naturalmente, com o tempo, o praticante vai habituando-se à rotina e à máquina, começando a entender o que está se passando. Aconselho aos praticantes demonstrarem humildade, muita boa vontade e grande interesse nessa fase inicial, sempre anotando qualquer informação relevante, acompanhando os oficiais em qualquer manutenção realizada, e, principalmente, evitando ficar sentado por muito tempo no CCM (Centro de Controle de Máquinas).

Mais uma coisa, sim, erros irão ser cometidos (esquecer-se de isolar adequadamente um filtro para retirá-lo para limpeza, drenar uma rede pressurizada, apertar de forma não uniforme um flange ou tampa de filtro, abrir uma válvula que não era para ser aberta ou abrir uma válvula e esquecer-se de fechá-la, dentre outras inúmeras situações que podem ocorrer), porém não se abatam com seus erros, e sim aprendam. Não desistam de acertar!

5 – Aos alunos da EFOMM, quais dicas e matérias são mais importantes no seu curso para a praticagem?

Enfatizo a necessidade do praticante em possuir algum conhecimento teórico sobre o funcionamento dos equipamentos, dessa forma, física e termodinâmica poderão ajudá-lo, o conhecimento em eletrônica, eletricidade, instrumentação e controle (automação) fará com que o praticante (futuramente 2OM) torne-se de certa forma diferenciado, pois poucos possuem tais conhecimentos. Refrigeração, caldeira, turbina, motores de combustão interna e máquinas auxiliares são essenciais para que se possa ter uma boa noção de máquinas.

Porém, apesar de toda essa carga teórica, o praticante irá se deparar com um sistema totalmente particular e novo a bordo, e, com certeza, grande parte de tudo que irá aprender será na prática, dessa forma, mais uma vez, gostaria de lembrar a importância do domínio da língua inglesa (principalmente o inglês técnico, na minha época, ministrado pelo professor J. Almeida, podendo hoje entender o porquê do empenho do mesmo em nos passar todo o conhecimento possível, muito obrigado professor!), pois apenas com o domínio dessa língua será possível a leitura dos manuais, naturalmente em inglês. Além disso, para “correr redes”, o inglês também é essencial (todo navio possui um plano, em inglês, com todas as tubulações presentes no mesmo, com todas as válvulas e sistema que tais tubulações integram, por exemplo, sistema de vapor, água de baixa, água de alta, ar comprimido, dentre outros inúmeros sistemas). Caso o praticante queira realizar uma boa praticagem, aconselho-o a pegar tais planos e segui-los, dessa forma, o mesmo irá aprender muito.

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6 – Qual sua expectativa em relação a profissão e aos futuros embarques?

Fico extremamente feliz com todo o meu desempenho na praticagem, pois tenho total consciência que fiz o meu melhor, e por ter realmente me identificado com a profissão. No entanto, agora, tendo que desempenhar a função de 2OM, sei que serei bem mais exigido e terei inúmeras responsabilidades, por isso, nos futuros embarques, tentarei, ao máximo, manter a postura a qual desempenhei na minha praticagem, tendo boa vontade com todos, muita humildade, evitando, ao máximo, falar mal dos companheiros de trabalho, ficar parado no CCM (afinal é lá fora que as coisas acontecem) e continuar com muita motivação e garra.

Para finalizar, gostaria de mandar uma mensagem aos futuros/atuais praticantes:
Trabalhem pelo nome de vocês (sim agora tá valendo), tirem sempre o melhor de todas as situações e, principalmente, façam valer toda a sua história de vida, a qual levou onde você está agora!
Um grande abraço a todos e muito sucesso!!

Equipe da postagem:

Al. Lemos – Texto

Al. Otacilio Neto (Presidente do Jornal) – Texto

Imediata Al. Gabriela – Revisão ortográfica

Al. Lemos

Aluno do 3º ano do curso de Náutica do CIABA

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